A cólica menstrual, também conhecida como dismenorreia, caracteriza-se pela dor recorrente que acontece no período menstrual ou um pouco antes, localizada no “baixo ventre” (hipogástrio). É muito comum e representa cerca 78% das queixas de desconforto menstrual, sendo moderada ou grave em apenas 10% dos casos.

Por que dói?

A cólica menstrual é explicada pela ação das prostaglandinas e leucotrienos, substâncias produzidas um pouco antes da menstruação em decorrência da queda da progesterona que ocorre na fase lútea do ciclo menstrual. A vasoconstrição, a inflamação e as contrações uterinas produzidas pela ação dessas substâncias é o que faz com que o endométrio seja descartado pelo útero na forma de menstruação, mas também provocam dor.

Além da própria cólica menstrual, são comuns outros sintomas como dor lombar, distensão abdominal, náuseas e vômitos.

Classificação da dismenorreia

Podemos classificar a dismenorreia em primária e secundária:  

  • Dismenorreia primária: 
    É a cólica menstrual cuja intensidade tende a ser a mesma a cada ciclo menstrual e que não está associada a outra doença. Normalmente bem tolerada, melhora quando a mulher mantém um estilo de vida saudável e, quando necessário, pelo uso de analgésicos comuns.

    É identificada quando a mulher já apresenta ovulação, o que comumente ocorre decorridos seis a 12 meses da primeira menstruação (menarca), quando se observa o amadurecimento do eixo hormonal da mulher (eixo hipotálamo hipofisário) e tem início os ciclos ovulatórios na sua vida reprodutiva.

    A dor é resultado da ativação de receptores específicos no sistema nervoso. Estima-se que as vias neurais da dor sejam mais sensíveis nas mulheres que têm cólicas menstruais. Dessa forma, pequenos estímulos podem gerar uma resposta dolorosa mais intensa. Essa seria uma explicação para o fato de que algumas mulheres sentem dor na menstruação e outras não. Algumas pesquisas científicas associaram uma mudança de volume da substância cinzenta cerebral nas portadoras de dor crônica, a dor que passa de seis meses de duração.
  • Dismenorreia secundária
    É a cólica que ocorre a cada menstruação e decorre de outras doenças, sendo comum em patologias como a endometriose, a adenomiose, os miomas uterinos, os cistos ou tumores ovarianos, a hidrossalpinge, as infecções pélvicas etc. Normalmente iniciando desde a menarca, costuma ter piora progressiva, não sendo infrequente a necessidade de quantidades crescentes de medicamentos para seu controle, bem como muitas visitas aos serviços médicos.

    Muitas vezes, a dor passa a ser limitante, o que resulta em altos índices de absenteísmo na escola, no trabalho e em encontros sociais. Recentes estudos científicos demonstram que cerca de 40% das adolescentes faltam a escola devido à cólica menstrual, e observaram uma associação com emoções negativas, estresse, alterações de humor, depressão e ansiedade, quadro que indubitavelmente exerce forte impacto na qualidade de vida dessas mulheres. 

Diagnóstico

A cólica menstrual intensa e de difícil controle deve ser um sinal de alerta para que a mulher procure o médico. 

Outros sintomas, como dor na relação sexual (dispareunia), sangramento uterino excessivo, dor pélvica fora do período menstrual (dor pélvica acíclica), sangramento nas relações sexuais (sinusiorragia), também devem ser valorizados.

O exame físico, realizado pelo médico na consulta ginecológica, e exames complementares como a ultrassonografia pélvica ou transvaginal, a ressonância magnética especializada, a histeroscopia, a histerossalpingografia, a tomografia computadorizada, são fundamentais para o diagnóstico e para o planejamento do tratamento.

Tratamento 

A busca de um tratamento eficaz, com baixo custo, acessível e preferencialmente definitivo é a solução almejada pelas mulheres que sofrem com cólicas menstruais.

Utilizando terapia manual, eletroterapia e exercícios, o tratamento fisioterápico pode diminuir as contrações musculares reflexas à dor. Além disso, sessões de terapia e apoio psicológico são utilizadas para melhorar os quadros de ansiedade, depressão, irritabilidade e baixa autoestima. Analgésicos, anti-inflamatórios, medicamentos hormonais (pílulas anticoncepcionais orais, anel vaginal, implante subdérmico, adesivos hormonais, DIU hormonal), derivados da codeína, da morfina ou do canabidiol são opções de medicamentos disponíveis. Em alguns casos, faz-se necessária cirurgia para tratar a patologia associada, de preferência através de técnicas minimamente invasivas (laparoscopia, histeroscopia, cirurgia robótica).

Manter um estilo de vida saudável, praticar exercícios físicos regularmente, dormir bem, aumentar o consumo de alimentos frescos e anti-inflamatórios, diminuir o consumo de álcool e de fumo, são ações associadas ao controle da dor.

Sabemos hoje que o tratamento da cólica menstrual deve ser feito preferencialmente por equipe multidisciplinar, incluindo médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos, estratégia fundamental para o controle da dor e melhora na qualidade de vida.

Quando desconfiar que algo pode estar errado?

Se você tem cólicas menstruais intensas, que pioram progressivamente a cada menstruação, se toma vários medicamentos para dor, se vai ao hospital com frequência, se falta em compromissos de trabalho, da escola ou sociais, e se a dor limita sua vida de alguma forma, procure uma avaliação com o ginecologista. Não é normal sentir dor.

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