Como o nome sugere, a  endometriose intestinal consiste na presença de lesões de  endometriose no intestino. Estima-se que 5% a 37% das pacientes com endometriose tenham endometriose intestinal. Estudos científicos atuais relatam uma demora de até sete anos para o diagnóstico, com grande prejuízo na qualidade de vida dessas mulheres.

A maioria das mulheres com esse tipo de endometriose não tem a doença só no intestino. Cerca de 70% a 90% delas tem endometriose também em outros órgãos, como ovários, útero e tubas uterinas, além de não raramente apresentarem também lesões na bexiga urinária e nos ureteres.

Quais são os sintomas da endometriose intestinal?

Por se tratar de um tipo de endometriose, além dos sintomas mais frequentes da doença, como cólicas menstruais (dismenorreia), dor na relação sexual (dispareunia) e dificuldade em engravidar (infertilidade), outros sintomas inespecíficos são comumente encontrados, como a distensão abdominal, o aumento de gases (flatulência), a sensação de esvaziamento incompleto do intestino e a dor ao evacuar. Esses sintomas podem aparecer esporadicamente, mas há casos em que ocorrem diariamente, e costumam  piorar durante a menstruação. 

A evolução desse tipo de endometriose costumar ser lenta, sendo raros os casos de obstrução intestinal, presença de sangue nas fezes e alteração na sua forma. Isso se deve ao fato de a lesão de endometriose intestinal raramente atingir a parte interna do intestino, também chamada de mucosa intestinal.

Como acontece a lesão de endometriose intestinal?

O intestino é um órgão tubular, composto basicamente por três camadas: a mucosa intestinal, também chamada de luz intestinal, é a parte que reveste o intestino internamente; a camada média ou muscular; e a camada externa ou serosa, que está em contato com outros órgãos abdominais.

As células endometriais chegam à cavidade abdominal através das tubas uterinas e se fixam na superfície externa do intestino, ou seja, na serosa intestinal, formando lesões pequenas que pode evoluir em lesões maiores, os chamados espessamentos, ou ainda maiores, quando passam a ser chamadas de nódulos.

O reto e o sigmoide são as duas porções do intestino mais comumente afetadas, particularmente a região mais próxima à parte posterior do útero e ao fundo da vagina, motivo que explica, em muitos casos, a dor no fundo da vagina durante a relação sexual.

Aderências pélvicas são muito frequentes nesse tipo de endometriose, podendo ser severas e comprometer toda a pelve. 

O termo endometriose profunda não é sinônimo de endometriose intestinal, embora muitas vezes seja utilizado nesse sentido nos laudos de exames. Trata-se de termo utilizado no meio médico para indicar que a lesão se aprofunda mais de 5 mm na superfície peritoneal do órgão acometido, e a sua presença indica que a doença já se encontra em estágio avançado. Cerca de 30% dos casos de endometriose profunda estão no intestino, podendo ainda atingir ligamentos, útero, ovários, bexiga urinária, ureteres e nervos abdominais.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da endometriose intestinal é essencialmente clínico. Isso quer dizer que o médico pode fazer o diagnóstico com base nos sintomas relatados e no exame físico. Exames específicos podem ser solicitados para confirmar o diagnóstico e auxiliar na terapia.

A dor ao evacuar e sua eventual irradiação para a região do reto, principalmente quando durante a menstruação, bem como a dor profunda na relação sexual, são sintomas indicativos da doença que frequentemente constituem a queixa da paciente durante a consulta com o seu médico.

A presença de espessamento ou de nódulo de endometriose intestinal pode ser identificada pelo médico durante o exame ginecológico (toque vaginal ou retal). Comumente localizam-se na parte posterior da vagina, atrás do útero, e podem levar à diminuição da mobilidade dos órgãos pélvicos, dos ovários e do útero, assim como estarem associados à existência de aderências pélvicas.

Os exames específicos para a pesquisa de endometriose são a ressonância magnética e a ultrassonografia com preparo intestinal, e é importante assegurar que sejam realizados por profissionais especializados. O preparo intestinal geralmente começa no dia anterior ao exame com o objetivo de diminuir os gases e fezes no intestino, o que se obtém com dieta laxativa e uso de laxantes. O intestino assim preparado facilita a visualização das lesões de endometriose. Durante a realização do exame, é introduzido na vagina (exceção a mulheres que ainda não iniciaram a vida sexual) e no reto, uma quantidade substancial de gel, permite melhor avaliação da lesão, verificando seu tamanho, forma e localização (distância em centímetros da borda anal). 

Como é feito o tratamento da endometriose intestinal? 

O tratamento da endometriose intestinal costuma ser cirúrgico e tem como objetivo remover não só as lesões intestinais, mas todos os eventuais focos de endometriose identificáveis. Em alguns casos, o uso de medicamentos hormonais (pílulas anticoncepcionais ou contraceptivos orais, anel vaginal, implantes transdérmicos, DIU medicado com levonorgestrel) além de medicações antiestrogênicas como por exemplo os análogos de GnRH e os inibidores da aromatase podem ser uma tentativa de tratamento clínico, mas os resultados não costumam ser satisfatórios.

A melhor técnica cirúrgica para o tratamento da endometriose intestinal é a cirurgia minimamente invasiva – a laparoscopia. As cirurgias costumam ser agendadas eletivamente, antecedidas de preparo intestinal com laxantes e dieta para que as fezes e gases sejam eliminados do intestino, reduzindo a chance de complicações. A abordagem cirúrgica varia de acordo com o número, as localizações, profundidades e extensões das lesões, sendo comum o emprego de grampeadores intestinais.

O que é colostomia? Vou precisar fazer?

Essa é uma das principais dúvidas e, por que não dizer, medos da mulher com endometriose intestinal que será submetida a cirurgia para o seu tratamento.

Por se tratar de uma doença avançada, o tratamento cirúrgico da endometriose intestinal é complexo, exige equipe treinada, e não há dúvidas que há maior risco de complicações. Embora possa ser necessária, nem todas cirurgias de endometriose intestinal necessitam colostomia. A necessidade aumenta quando as lesões são mais baixas, ou seja, a 4 ou 5 cm da borda anal, dado que costuma ser descrito nos exames de imagem pré-operatórios.

Colostomia é o nome dado a exteriorização de uma parte do intestino (cólon) para a parede abdominal e serve para construir um novo trajeto para a saída das fezes. É utilizada sempre que a paciente apresentar qualquer problema que a impeça de evacuar normalmente pelo ânus e seu objetivo é deixar a região submetida a tratamento cirúrgico, livre da passagem de fezes, permitindo a cicatrização do local. As fezes saem pelo estoma ou abertura da alça intestinal, localizado na superfície do abdome e são coletadas em uma bolsa coletora de fezes. Geralmente, após 2 a 6 meses a paciente é submetida a nova cirurgia e o trajeto intestinal normal é restabelecido.

Embora raras, a cirurgia de endometriose intestinal pode apresentar algumas complicações como as fístulas, que acometem cerca de 1% das pacientes operadas. São pequenos orifícios na alça intestinal que podem surgir no pós-operatório, abrindo um caminho para que as fezes adentrem a cavidade abdominal, levando a um processo inflamatório e até infeccioso, muitas vezes grave. O tratamento mais comum para a fístula é a realização de nova cirurgia para seu fechamento e, nesses casos, a colostomia é necessária.

Com tudo isso, a mensagem mais importante é que o medo de uma complicação não deve afastá-la do tratamento. Procure ficar atenta aos sintomas suspeitos de endometriose. Consulte o médico especialista se tiver dúvida. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo o tratamento pode ser iniciado e menor o risco de complicações.